Marcelo Andrade [1]
Vivemos
uma tensão permanente entre a diversidade de culturas e o caráter padronizador
e uniformizador de mitos processos sociais, tais como: a educação escolar,
modelos de consumo, os padrões de beleza que nos são impostos etc. A
diversidade também entra em choque com a suposta igualdade de tratamento que
devemos receber em alguns campos da vida, como o escolar, o jurídico e os
serviços sociais. Esta tensão só será melhor trabalhada quando se conseguir
entender que tratamento igual não significa uniformização, que desrespeita,
padroniza e apaga as diferenças e que respeito às diferenças, não significa, em
hipótese alguma, justificativa às práticas que consolidam processos de
desigualdade.
Sendo assim, discutir a relação
entre igualdade e diferença, visa, por um lado, negar a cegueira da sociedade
frente às diferenças culturais em nome de um igualitarismo abstrato, como, por
outro lado, evitar que só enxergue as diferenças que acabarão isoladas em guetos. Se nem um
extremo nem outro são aceitáveis, um grande desafio persiste para nós: como
articular o ideal de igualdade e o respeito às diferenças? Uma distorção está
no fato de – em nome da igualdade – as diferenças serem encaradas como
patologia, déficit cultural, incapacidade ou deficiência. Outra distorção está
no fato de – em nome do respeito às diferenças – se rejeitar uma base comum
entre nós humanos, como um direito a ser realmente garantido para todos e
todas.
Neste sentido, é preciso colocar a
diferença num campo de significação positiva. Segundo alguns críticos, afirmar
a diferença significa criar possibilidades de justificativas para a
desigualdade. A diferença aparente reclamaria e justificaria a desigualdade de
fato. Nesta linha de raciocínio, não seria difícil concluir, pelo menos no
âmbito do senso comum, que somos desiguais porque somos diferentes em aptidões,
habilidades, capacidades. Bem, se quisermos fugir dessa “cilada”, talvez, uma
possível saída seria alertar que o contrário de diferença não é igualdade, mas
sim a mesmice e a indiferença.
Os processos de desigualdade devem
ser combatidos com a afirmação da igualdade. E a afirmação da diferença não
questiona a igualdade, mas a mesmice. Estar na mesmice remete-nos a ideia de
indiferença, desinteresse, desprezo, insensibilidade, negligencia, apatia.
Afirmar a diferença, então, pode – e deve – ser associado ao campo semântico
positivo, de estar interessado, atenta, sensível, ter apreço. Mas estar atento
a quê? Sensível a quê? Ao outro, à alteridade, ao que não sou eu, e por isso
mesmo, também diferente. Nesta perspectiva, diferença pode ser associada à
abertura ao outro, à recusa de estar fechado em si mesmo, desinteressado do
outro que me cerca, indiferente, apático. Assim, afirma-se a igualdade para se
superar a desigualdade. E afirma-se a diferença para se superar a mesmice e a
indiferença. Igualdade e diferença afirmam a inclusão e a abertura ao outro. A
desigualdade e a mesmice (indiferente e padronizada) negam o outro, excluem-no,
desqualificam-no.
[1]PUC-Rio / Novamerica.
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